Era uma sexta-feira de manha logo após as esperanças do ano novo serem renovadas. Mas a cidade nunca para, 8 AM e as pessoas ainda estão com sono por ter tentado aproveitar o dia após seus compromissos, adentrando no horário do sono para se sentirem um pouco vivas.
Embarcam em suas rotinas, sobem na condução para virarem uma massa amorfa de pele, suor e ilusões. Ali deixam para trás os poucos momentos humanos que tiveram a poucas horas atrás.
A cobradora do ônibus com um olhar distante é trazida de volta da terra onde ela é bonita, feliz e desejada com apenas três batidas de moeda na sua bancada de cobrança por uma mulher não muito diferente dela. O que as diferenciavam era apenas que uma estava numa posição de passageira por aquele breve instante.
Trocaram um único olhar, como se se entendessem e comungassem do mesmo sentimento. Recebeu o dinheiro, a catraca girou. Uma fechou o olho para tentar recuperar o sono perdido e a outra se perdeu entre o resto da massa humana. Se quer trocarem uma palavra ou gesto que demonstrasse alguma cumplicidade e respeito por aquele momento que seria o mais intenso de seus dias repetitivos.
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