14 janeiro 2013

Elei(dentifica)ção

A gente não elege amigos, apenas identificamos eles no meio de todas as outras pessoas . Também não paramos para analisar criticamente a letra das músicas e suas melodias, apenas nos identificamos com o sentimento e o sentido que ela tem. Um filme complexo para alguns as vezes me é tão simples e vice versa, pois o compreendimento dos diálogos e das interações humanas é perceptível à vida que levo, do que acredito e nas minhas razões.
Não podemos simplesmente desvalorizar e julgar inaceitável comportamentos e sentimentos das obras só porque não sentimos da mesma forma. Alguém, na mesma sala do cinema, três fileiras para baixo se sentiu tocado e reconheceu, talvez, um novo filme favorito. Não há fórmulas para construir um acervo de obras que nos identifique, apenas coletamos e separamos o que nos é aceitável, poético e simples.

11 janeiro 2013

I gotta a need to feel, so I shake it

Acho que eu nasci pra fazer memórias a algo perene. Memórias que guardamos com carinho são sempre bonitas, alegres, cheias de vida. O cérebro ignora o que foi ruim e deixa as partes boas, que são as que importam.
A vida é cheia de ciclos, começa um com o fechamento de outro. Adiciona situações e pessoas durante. Levamos sempre para o próximo o aprendizado e os sentimentos que nos satisfazem. Mas tudo, sempre, tem um fim. O ciclo pode durar décadas, meses ou horas dependendo do contexto, mas ele se encerra.
Gosto de achar que sou o diretor, que faço cenas bonitas para a minha vida, como se fosse episódios rumando pra season finale. Tem que ter um clímax, não podemos adiar para a próxima temporada a parte que nos faz querer vomitar, chorar ou sair correndo. Se a temporada não está boa, não há renovação de contrato.
Minha vida tem esse padrão, sempre teve. Não é proposital, é meu estilo de viver que eu nunca me dei conta. Tento fugir, tento mudar ou me adaptar, mas acabo sempre me odiando por não estar sendo eu.
É tosco e infantiloide porém funcionou até agora.


07 janeiro 2013

Echo

Could you show me dear, something I've not seen?
Something infinitely interesting


Sentimentalmente resiliente

Cada vez mais me convenço que a tristeza ou indiferença não é a parte errada, e sim essa busca insana pela felicidade e plenitude.
É a inércia: você não nasce com sentimentos, então tende a não ter sentimentos especiais. Por algum motivo qualquer você tem a graça de sentir a felicidade ou a plenitude, e então acaba, foi um momento. Da mesma forma com a tristeza, só que como tudo que conhecemos, a propensão para não estar nas condições ideais é maior que para ter algo te puxando para trás, onde acabamos experimendo mais da tristeza.
A felicidade é a heroína da nossa geração. Todos que experimentaram a querem de novo, mendigam e se escoram em ícones que acreditam ser uma ponte até essa droga, como se fosse assim simples.
Ainda bem que somos sentimentalmente resilientes.

De verdade, de mentira

"Quem é de verdade sabe quem é de mentira" - Pra mim era só mais uma filosofia de rodoviária do Charlie Brown Jr, mas minha mãe gosta tanto dessa frase que pensei melhor a respeito, afinal foi uma pessoa mais vivida e que eu admiro que à fez ser notada.
A frase é direta e restrita ao binômio "verdade" e "mentira", que pra mim são variáveis e não devemos julgar pontos de vistas levianamente.
Me convenci que essa frase tem seu valor e sentido ao analisar que os iguais se reconhecem. Portando assim separando os de "verdade" e os de "mentira".
Só que os iguais tem quase um pacto no olhar em não deixar transparecer que são marcados com as mesmas cicatrizes. Preferem o anonimato e a distancia "dos de verdade" - das pessoas que te sacam sem precisar conversar ou ter uma convivência maior.
É como estar de cueca numa multidão, é o não estar nu mas saber o que está por vir, porém sem saber o momento certo.
Então aí conseguimos notar que é um pouco mais, cada um tem o seu grupo "dos de verdade" e "dos de mentira" em níveis de compreendimento e diversos campos da percepção de vida.

Salva suas (pequenas/grandes) diferenças, isso tudo é a psicopatia que nós temos tentando nos manter vivos e inseridos na sociedade. Procuramos "os de verdade" para a maior parte dos nossos sentidos, temos a necessidade de ficar em bando. Já "os de mentira" são a tribo rival, com a maior parte dos sensos destorcido do nossos. Quando nos deparamos com as pessoas que reconhecem o nível e até onde sua psicopatia vai, logo a poupamos também inserindo no grupo "de verdade" porque ai nasceu instantaneamente uma chantagem não declarada e uma disputa de quem vai sobreviver mais tempo. O bom é que somos de essência pacifica e piedosa (entre outras palavras, cada um fica com seu cu na mão esperando o momento de fingir).

04 janeiro 2013

Massa humana

Era uma sexta-feira de manha logo após as esperanças do ano novo serem renovadas. Mas a cidade nunca para, 8 AM e as pessoas ainda estão com sono por ter tentado aproveitar o dia após seus compromissos, adentrando no horário do sono para se sentirem um pouco vivas.
Embarcam em suas rotinas, sobem na condução para virarem uma massa amorfa de pele, suor e ilusões. Ali deixam para trás os poucos momentos humanos que tiveram a poucas horas atrás.
A cobradora do ônibus com um olhar distante é trazida de volta da terra onde ela é bonita, feliz e desejada com apenas três batidas de moeda na sua bancada de cobrança por uma mulher não muito diferente dela. O que as diferenciavam era apenas que uma estava numa posição de passageira por aquele breve instante.
Trocaram um único olhar, como se se entendessem e comungassem do mesmo sentimento. Recebeu o dinheiro, a catraca girou. Uma fechou o olho para tentar recuperar o sono perdido e a outra se perdeu entre o resto da massa humana. Se quer trocarem uma palavra ou gesto que demonstrasse alguma cumplicidade e respeito por aquele momento que seria o mais intenso de seus dias repetitivos.